O JARDIM SIMBÓLICO

Agora introduzo um capítulo muito interessante sobre simbologia, levando em conta uma referencia que me agrada muito mencionar: O JARDIM SIMBÓLICO

O jardim é um símbolo que se encontra em várias formas em quase todas as nações e épocas, em mitologia e religião, literatura e arte. Trata-se de um símbolo arquétipo que, a despeito das diferenças de forma e significado tem certos elementos comuns.

1 – A forma do jardim é usualmente geométrica, e isto é simbólico. Ele pode ser circular, representando totalidade, o cosmos e a vida, sem começo nem fim. Pode ser quadrado ou retangular, simbolizando estabilidade e as quatro direções. A forma regular representa ordem, em contraste com caos.

2 – O jardim é fechado; além de ter certas formas, essa forma é definida por um divisor (cercado, muro, etc.) que a separa do mundo exterior. Por outro lado, o jardim é ordem, ao passo que o exterior é terra selvagem ou caos. O jardim e a terra selvagem também representam dualidade, o reino mundano e o cósmico, ou o material e o psíquico, o consciente e o inconsciente.

3 – Cultivo é outra característica do jardim. Simboliza desenvolvimento e transmutação espiritual, o crescimento dirigido, do indivíduo ou do grupo. Às vezes representam ensinamentos secretos, ou o local onde tais ensinamentos podem ser encontrados.
4 – O jardim é uma unidade, e simboliza o Eu unificado, ao passo que o mundo exterior representa o não-Eu e a multiplicidade

5 – O jardim é muitas vezes encarado como o centro do mundo, Como o Shekinah, representa a presença do Ser Cósmico ou Divino no Mundo. A árvore ou a roseira, no centro do jardim, simboliza o eixo do mundo, o centro cósmico em torno do qual tudo gira. Como o tempo, o jardim é o local sagrado.

6 – O jardim simboliza o ideal, o celestial; o paraíso, ou o outro mundo, pode ser como um jardim, ou ter as características de um jardim cósmico ou divino. Não é o reino natural, mundano, representado pela terra selvagem, e sim o ideal, o reino celestial.

7 – No jardim, as plantas crescem abundantemente; elas representam fertilidade, porém, fertilidade dirigida pelo jardineiro, que, como o alquimista que também é considerado um artesão, dirige as forças da natureza.

8 – As plantas nascem de sementes, crescem e morrem; assim, o jardim representa nascimento e renascimento. Esses ciclos naturais correspondem a outros ciclos e os simbolizam; por exemplo, o desenvolvimento místico e a reencarnação.

9 – Quando se trata de um jardim paradisíaco, ele representa o reino superior e o inferior, o celestial e o terreno, unificado num só reino.

A forma do jardim simbólico varia. O Tuat ou submundo dos egípcios, é um reino cósmico que tanto apresenta aspectos paradisíacos como infernais. O Jardim das Hespérides, as ilhas dos Bem-aventurados, e os campos Elísios, são variações no tema do jardim-paraíso. Os egípcios plantavam trigo em imagens de Osíris, ou cevada em potes. As miniaturas de jardins dos chineses representavam uma miniatura do cosmos e eram usadas para meditação.  Os Campos Elísios eram um reino do Oeste, onde viviam os abençoados, como as Ilhas dos Bem-aventurados da mitologia grega.
No livro bíblico de Isaías, os transgressores são comparados a um carvalho cuja folhagem murcha e a um jardim sem água. Jeremias declara que o Senhor redimirá Jacó e que “ suas almas serão como um jardim bem regado; e eles não mais se afligirão”.

Ezequiel diz: “assim diz o Senhor Jeová: No dia em que Eu vos purificar de todas as vossas maldades, então farei com que sejam habitadas as cidades e sejam edificados os lugares devastados. E a terra assolada se lavrará, em vez de estar assolada aos olhos de totós os que passem. E dirão: Esta terra assolada ficou como o jardim do Éden; e as cidades solitárias, e assoladas, e destruídas, estão fortalecidas e habitadas”.

Segundo o Livro de Gênesis, “formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. E plantou o Senhor Deus um jardim no Éden, da banda do oriente; e pôs ali o homem que tinha formado. E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal. E saía um rio do Éden para regar o jardim”.

Fílon, explicando o significado alegórico do jardim do Éden, salienta que Moisés o chama de começo, imagem e visão de Deus. Ao plantar esse jardim, Deus semeia a excelência terrena, como uma cópia ou um protótipo da excelência celestial ou arquétipa.  O jardim é plantado para o oriente, onde nasce o Sol, por que a razão não se põe; antes, eleva-se como o Sol. O jardim simboliza a virtude que Deus planta na alma. A árvore da vida é colocada no centro do jardim por que representa virtude em seu sentido mais universal.

Moisés não deixa claro, segundo Fílon, se a árvore do conhecimento do bem e do mal está situada dentro ou fora do jardim. Na verdade, essa árvore tanto está dentro como fora do jardim, por que a maldade não está dentro nem fora do homem. A parte mais importante do homem  recebeu o cunho da virtude e está situada dentro do jardim. Mas um homem pode estar num local consagrado e sua mente estar ocupada com o mal.

O jardim, então, é comparado a sabedoria, virtude, e ao Eu. O rio que sai do Éden, diz Fílon, representa a bondade que emana da sabedoria. Os quatro rios representam prudência, coragem, autodomínio e justiça.

Fílon, judeu grego, baseou sua filosofia em ambas as culturas, a grega e a judaica. A alegoria do jardim se refere a virtude, lembrando os profetas judaicos. O Leste, o ponto do nascer do Sol, é associado a razão, a palavra ou o lógos grego. De acordo com o Alcorão, os autopurificados, os tementes a Deus, os retos, e os crentes, viveram no Jardim do Éden, sob o qual fluem rios. O jardim islâmico é semelhante ao Éden judaico. Mas, neste último caso, o homem teve inicio no Éden, ao passo que, na versão islâmica, os retos irão para o jardim quando morrerem. O céu dos cristãos pode ser semelhante ao Éden, mas não diz que ele é o Éden.

 

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